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Extinção e utopias

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Meu espírito de luta anda meio arrefecido, assim como minha crença na bondade da natureza humana. Fico a pensar que o destino da humanidade não é nada esperançoso. E não acredito que a culpa é somente do capitalismo, como muitos querem crer. É muito mais a natureza humana em ação constante a caminho de alguma derrocada lá na frente, o que pode demorar 50, 100, ou 200 anos, caminhamos para algum tipo de extinção. Não falo isso com tristeza ou desistência, apenas como uma possibilidade de observação.

As mudanças do clima na Terra, por exemplo, são cíclicas, qualquer paleontólogo sabe disso, e a existência da nossa raça só foi possível nos últimos cerca de 50 mil anos. Nos mais de 4 milhões de anos da existência do planeta as condições para a nossa vida eram impossíveis. E certamente em algum momento voltarão a ser. Claro que acredito que estamos ajudando a acelerar esse processo, mas ele é inexorável.

Por outro lado, onde foi até agora na história da humanidade que algum sistema econômico e político funcionou por muito tempo? Se olhamos para o mundo hoje, dividido em grupos de esquerda e direita, qual a grande nação socialista que está dando muito certo em termos de humanidade, de total respeito ao ser humano, como sonhamos utopicamente? Os países nórdicos, que apesar da oferta universal de serviços públicos de qualidade, têm um sistema econômico totalmente voltado para o capital, onde se desenvolvem grandes corporações e empresas de base tecnológica? A China que é comunista na política, mas não respeita direitos humanos, e tem sistema econômico voltado para a dominação global?

Outra coisa é que um dos grandes sistemas de dominação global hoje são as mídias sociais, criadoras de monstros que detêm informações sobre a maioria dos cidadãos do planeta. Hoje somos todos manipulados por eles, que são, além dos bancos, os maiores detentores do poder econômico global (e, mais ironia, usamos suas plataformas até para criticá-los, como aqui faço).

Poderia escrever muito mais sobre esses assuntos, que me fascinam. Mas nos últimos tempos tenho buscado não me deixar afetar muito sobre as incoerências de nossa existência (onde me incluo, óbvio), para buscar viver um pouco mais em paz nessa última etapa da vida. Uma atitude egoísta, individualista, pode ser. Melhor não alimentar ilusões, a não ser aquelas palpáveis, como andar no parque, aproveitar o sol para caminhar, escrever quando dá na telha, visitar o mar quando é possível, e curtir as poucas pessoas que amo. E, vez ou outra, sonhar e tecer utopias. (Texto baseado em carta escrita para a amiga Maria Imaculada Mazza)

15/12/2020

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